quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Melhorando do segundo ciclo


A noite de terça-feira para quarta foi a primeira que R não vomitou e a medicação para nauseas tem sido reduzida. Pouco a pouco as drogas da quimioterapia se vão da corrente sanguínea, e resta para as 2 semanas de recuperação alimentar-se bem, e lutar contra o tédio e o desânimo.

Ontem ele foi numa sessão de acupuntura que marquei. Foi a primeira experiência de R com as agulhas orientais. Acredito ser bom recorrer a terapias complementares para auxiliar no restabelecimento. Amanhã ele tem outra sessão.

Hoje a enfermeira que troca os curativos semanalmente veio e identificou que um dos tubos do cateter está entupido (são 2). Novamente veio a tona a polêmica se temos que usar o "flush" diário ou semanal. A enfermeira terceirizada insiste que deveríamos usar os "flush" diariamente indo de encontro à orientação do hospital. Agora para resolver o entupimento, uma nova requisição farmacêutica foi feita para um "desentupidor" de tubo. O problema não é grave, principalmente porque R não está tomando medicação por ali nestas semanas sem quimio, mas precisa ser resolvido para a semana 3 de quimioterapia que começa dia 11. Sempre temos surpresas...

O que eu vejo na nossa rotina é que o tratamento é muito mais do que só os dias de quimio. Há que se cuidar de muitas coisas no decorrer do processo. É trabalho diário e sempre tem algo para fazer: consultas, exames, compras de farmácia, controle de horário de remédio, injeções de anticoagulantes, problemas com o seguro saúde a resolver, roupas que são lavadas em maior quantidade (devido a perda de pêlos), comida que é feita sempre em casa. E assim passamos o tempo; e ficar doente junto não ajuda muito... Agora também estou tomando um probiótico para aumentar minha imunidade.

Amanhã, noite de ano novo, vamos celebrar em casa para R não pegar friagem. As champagnes estão na geladeira e vou atrás de sushi pela manhã. R provavelmente não vai desfrutar de nada disso, mas já tem um gatorade e um filé separado para ele. As refeições são sempre pensadas para ter muita proteína e ele gostou de tomar os shakes proteicos que estão "na moda". Uma tia médica de R mandou uns do Brasil e foram aprovados. Agora vou comprar os locais para incluir nos lanches dele.

C.



domingo, 27 de dezembro de 2015

Fim do 2o ciclo de quimioterapia


R teve alta apenas hoje de manhã. Apesar das infusões terem terminado na madrugada, a papelada só poderia ser emitida com a plantonista que entrava às 7 horas. Mas saímos a tempo de fugir do café da manhã do hospital e fizemos o desjejum em casa. :-)

Em solidariedade a R, peguei uma infecção urinária. Tive os primeiros sintomas no hospital de quinta para sexta, mas só fui no médico hoje para não gerar concorrência com o tratamento de quimio de R. Agora também tenho os meus remedinhos: antibióticos e analgésicos. :-P

C.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Ceia de Natal e anjos



Ontem, dia 24, fizemos uma surpresa para R. Eu já estava no quarto fazendo companhia a R quando meu sogro e a esposa chegaram com a ceia de natal: pizza, tortilhas, guacamole e refrigerante. R tem bom apetite quando a comida é mais salgadinha. O almoço e a janta do hospital ontem tinham sido muito ruins: umas almôndegas desbotadas e agridoces que nem quem não está doente conseguiria comer. Então a ceia de pizza foi um fabuloso luxo no hospital.

Alguns enfermeiros hoje vieram caracterizados com roupas com temas natalinos e chapéu de Papai Noel. Uma outra enfermeira me falou que sempre se prontifica para trabalhar nesta data... E o médico oncologista de plantão esta semana é provavelmente hindu, mas trouxe de presente a R uma velinha no formato de pinheiro de natal (disse que estava em sua casa fazia uns 10 anos e que não sabia ao certo de onde tinha vindo)... Particularmente me emocionei com um jovem voluntário da emergência que apareceu no quarto todo vestido e pintado entregando cartões de natal feitos por crianças do primeiro ano. Um gesto simples, mas que me encheu os olhos...

Ficar doente entre natal e ano novo não é das melhores coisas. Uma de minhas avós teve o azar de em 2 natais ter sérios problemas de saúde e quase morreu por falta de bom atendimento. A verdade é que ninguém quer trabalhar nestas datas, e o sentimento de desamparo quando se está internado é grande. Então os poucos que trabalham no hospital por "vontade própria" ou "espírito natalino" em época de festas são verdadeiros anjos praticando o bem ao próximo.

C.

Vela de natal que o médico trouxe de sua casa para entregar a R.

Cartão que entregaram no hospital hoje - Natal!

Cartão por dentro. Cheio de adesivos e mensagem de encorajamento. 




Gato:

Mês passado pedi autorização à dona do apartamento que moramos para ter um gato, indo na linha que se não tens filhos para te alegrar durante um tratamento como este, um animal de estimação pode ser algo também positivo. Mas mesmo falando da doença de R, a proprietária justificou que "seu marido" não tinha tido boas experiências no passado com bichos, etc, etc e que portanto, lamentava, mas não daria o consentimento. Confesso que fiquei chateada. Sigo então nos filminhos que também nos divertem...


Special thanks to the author Brad Rea
Posted by Bright Side on Quinta, 26 de novembro de 2015



I'm Climbing Up The Christmas Tree NEOW!
I'm Climbing Up the Christmas Tree NEOW! A hilarious reminder to keep your cats safe over the holidays, featuring Tricia Cole, music and lyrics by Robert Moorewww.TheShoKoShow.comhttps://www.facebook.com/ShortyandKodihttps://instagram.com/ShortyandKodiCats will be cats and what more do cats want to do at Christmas than "help" with the decorating? Shorty, Kodi and a bunch of friends demonstrate just how helpful they can be as they list the reasons why they so desperately want to climb the Christmas tree. Remember to keep your cats safe, folks. These are some fun clips of cats doing what they do naturally but cats can easily harm themselves by playing in the tree, ingesting tinsel and toxic materials, and of course by playing with the lights. Make sure they're supervised, avoid tinsel or fragile ornaments, unplug lights when not in the room, and anchor the tree to a screw in the wall. Monitor your cats closely so you can all have a safe and happy holiday.Thank you to the makers of the following videos for their permission to include their beautiful and hilarious cats in this compilation:Nomi the cat in the christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=9i_iDVV0c4kButters the cat loves climbing the Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=NqFh4w1C-zQCat Climbs Christmas Treehttps://www.youtube.com/watch?v=SvpxLTUNraMBengal cat climbs Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=6FAdUn3a1FkCat playing peak-a-boo in the Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=i0EzxaeADjAPiper the cat in Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=-bfpYmTyissCat Sees Ghost Orb Hiding In Christmas Treehttps://www.youtube.com/watch?v=IJq3Y2R1o5YBirdie the Cat - Christmas Treehttps://www.youtube.com/watch?v=X5Zbp2InvqgKittens Play with Christmas Treehttps://www.youtube.com/watch?v=zgp7mI0Z83UKitty knocks down Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=A6_oVjbs1o4.....And a Sybil Cat in a Christmas treeeee"https://www.youtube.com/watch?v=njJuXmUpRAAChristmas Cathttps://www.youtube.com/watch?v=t8I70yw4E_UChristmas Cats (Full Screen)https://www.youtube.com/watch?v=KfBNVhE63REChristmas Cats 2https://www.youtube.com/watch?v=V68YqAc2dFkCat hidden in Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=fqdsk79Dp2ACat in Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=XkHSNjZ-AxUPutting up Christmas decor with kittenshttps://www.youtube.com/watch?v=yk7bGxeFFhwKitten destroys Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=oKSpqnfvQJQCat in a treehttps://www.youtube.com/watch?v=nB8x2_lozAQCat in a Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=K4jSMcW1Y-8Just a cat in the Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=JKYQ94wRUwIKitten in Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=vdJBitL8jmEBlack kitten playing inside a Christmas treehttps://www.youtube.com/watch?v=qZfzibkE6_AChristmas Cat!!https://www.youtube.com/watch?v=Cz88S7VFbooKitten in the Christmas Treehttps://www.youtube.com/watch?v=Rw-kkpKgcIoCats Christmas Treehttps://www.youtube.com/watch?v=c30bSmz3FOs
Posted by Shorty and Kodi on Quinta, 10 de dezembro de 2015

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

2a Quimioterapia, Dias 1, 2 e 3


Este segundo ciclo de quimioterapia começou "mais rápido". Como R não teve nenhuma reação alérgica na primeira, (quando os medicamentos foram introduzidos um a um), nesta segunda os enfermeiros estão colocando algumas medicações / hidratações simultaneamente. Espera-se com isso que ele saia do hospital no sábado, ao invés do domingo (como foi a última vez).

O seguro de saúde e o sistema de saúde local continua nos surpreendendo. Segunda-feira (dia 21) recebemos uma carta pedindo documentos extras até o dia 19 último (!!!) e informando que o não envio no prazo (já esgotado) nos obrigaria a pagar uma conta de mais de 4 mil dólares, valor este que o seguro não estava pagando. A carta era bem mal feita, com pouca explicação e parecia golpe: tinha até os campos para preencher os dados do cartão de crédito e envelope para retorno a um endereço em outro estado! No entanto, ao ligar para o hospital, identificamos que era fidedigna, mas para nosso alívio informaram que a conta acabava de ser paga pelo seguro. Já entendi que vamos ter que reconferir toda fatura que chegar do correio, pois se fôssemos acreditar na carta, teríamos pago uma conta que não nos cabia. 

No mais, seguimos aqui no quarto de hospital. R está muito sonolento devido às muitas medicações e aos remédios anti-enjôo. Nestes 3 dias assistimos alguns filmes (The Internship, Being There, Just go with it), mas o que nos fez dar boas risadas foi Friends (pelo menos eu ri bastante, R fez um esforço).

C.


domingo, 20 de dezembro de 2015

Natal

Caros amigos, aproveito este meu último post antes de voltar à segunda rodada de quimioterapia para refletir um pouco sobre minha condição de privilegiado em relação a outros que passam por dificuldades maiores.

Desde que fui diagnosticado com câncer, tudo o que encontrei foi apoio, afeto, carinho e compreensão de familiares e amigos. Já comentei com vários de vocês que a condição não poderia ser melhor. Do ponto de vista da qualidade do tratamento, não há muito o que questionar. Do ponto de vista financeiro, o seguro saúde dá uma previsibilidade de quais serão as despesas e elas se encaixarão no orçamento. Do ponto de vista afetivo, conto com o apoio 24 horas da C, que desde o primeiro momento tem estado constantemente ao meu lado, prestando-me todo o amparo, carinho e amor que se pode imaginar. Como se não bastasse, ainda há todo o apoio e carinho da família que esteve e está aqui.

Não é preciso ir longe para pensar em quantas pessoas hoje passam por situações bem mais adversas que a minha e, aproveitando o espírito natalino (que certamente terá significado diferente para cada um dos leitores), gostaria de sensibilizá-los para esses casos e fazer o apelo para que considerem ajudá-los de alguma forma. Encarem minhas sugestões abaixo como um ponto de partida, mas que pode servir a cada um para refletir sobre um grupo ou uma causa que necessite de ajuda. Acho que o coração de cada um vai mostrar o melhor caminho.

Eu, particularmente, fiquei sensibilizado por dois casos: o dos refugiados e o da creche e asilo Abrigo Doce Morada no Rio de Janeiro.

No caso dos refugiados, por acompanhar os temas de Oriente Médio e por ter trabalhado com esse assunto no Irã, toda vez que penso no assunto, lembro de um episódio. O Brasil, na época, fez uma doação que foi usada para construir uma escola para refugiados afegãos no Irã e eu acabei designado para a inauguração. Foi muito emocionante conhecer as crianças que seriam atendidas pela nova escola e até hoje lembro do comentário do representante da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). "Isso não vai resolver os problemas do mundo, mas, para estas pessoas, vai".

O site do ACNUR tem informações sobre o trabalho da agência (www.unhcr.org) e doações podem ser feitas no site http://donate.unhcr.org/

O caso do Abrigo Doce Morada também me sensibilizou. Gostei muito do trabalho feito pelo professor Carlos Cardoso com crianças e idosos. No site do Abrigo, há algumas reportagens feitas pelas redes locais de televisão: http://www.abrigodocemorada.org.br/site/videos.php que mostram um pouco mais do trabalho feito.
No site há informações de como doar para a instituição filantrópica http://www.abrigodocemorada.org.br/site/colabore.php

Existem inúmeras instituições fazendo o bem pelo mundo afora, talvez você conheça outra com a qual se identifique mais. Acho apenas importante destacar que toda ajuda, por menor que seja, é bem vinda e que todos nós, independente de nossas situações, podemos ajudar um pouco.

R






sábado, 19 de dezembro de 2015

Careca


Na quinta, dia 17, fomos ao oncologista. Os exames de sangue estão bons e R poderá iniciar a segunda semana de quimioterapia no próximo dia 21.

Também raspei o cabelo dele com a máquina. Acho que para homens o impacto não é ruim, afinal tem gente que opta pelo modelo careca por puro estilo. O único porém da calvície é que o inverno será mais frio para ele sem a "cobertura". Muito gorro e boinas nesta temporada!

C.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Os primeiros (muitos) fios de cabelo se foram...



Depois do banho, R veio me mostrar a toalha branca que agora estava "cabeluda". A calvice ainda não é aparente no visual de R, mas tanto cabelo assim espalhado por tudo poderá incomodar. R está decidido que no próximo banho quer que eu raspe seu cabelo. Temos máquina em casa para o corte, mas nunca usei para tamanho desafio...

R estava de melhor humor hoje e tinha dado umas gargalhadas assistindo "Yes, Minister". Fiquei feliz, pois é bom vê-lo no seu estado normal.

A noite tivemos a visita de uma casal de amigos queridos (LL). Rolou xadrez entre R, L (amigo) e meu sogro. R perdeu algumas, mas ganhou a maioria. :)
Eu e L (amiga) ficamos assistindo as partidas, comendo e conversando. Foi uma noite boa e descontraída.

C.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Nada de novo. Enjôos continuam.


Desde sábado os inchaços estão mínimos. Estamos aliviados com isso.

Estranhamente, R relata que os enjôos pioraram esta semana, mas ele continua se alimentando bem. Diariamente faz uma caminhada de 30 a 40 minutos que o deixa exausto. Para repor as energias, ele tem tirado um cochilo no meio da manhã e outro de tarde.

No mais, hoje a enfermeira veio trocar a capa de proteção do picc line e fez o flush semanal.

Próxima quinta, dia 17, tem exame de sangue e consulta com o oncologista para ver se está tudo bem para a segunda rodada de quimioterapia.


PS: estamos realmente precisando de indicações de boas comédias! R está meio desanimado e filmes positivos sempre ajudam!


C.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Inchaço novamente


Ontem a noite o inchaço voltou ao braço. Dá muito nervoso quando isso acontece.
R foi se deitar mais cedo para na posição horizontal o sangue circular melhor. Eu fui escrever um email para a enfermeira chefe do oncologista. Relatei que o inchaço tinha retornado, pedi instruções se temos que aguardar mais dias para o anticoagulante fazer efeito e pedi mais uma receita para o medicamento, já que o que nos foi receitado inicialmente só é suficiente para uma semana.

R fez o ultrassom de hoje e o resultado foi bom, segundo o radiologista. O laudo final não foi entregue ainda, mas aparentemente o câncer está mesmo só no peito.

Depois do meio dia a enfermeira ligou, disse para continuarmos observando o andamento dos inchaços e passou uns telefones para ligar durante o fim de semana (se precisarmos). Por R não ter dor ("só" forte desconforto), os inchaços ainda não são graves aos olhos dos médicos...

R tem comido com mais satisfação a cada dia. Cada prato degustado é um "gemido", não de dor, mas de prazer. :-) A quimio, além de deixar a pessoa enjoada, acaba com o paladar (que agora está voltando). Às vezes tenho até que o advertir para que não coma tanto. O prato mais elogiado até agora foi o de lentilha, que preparo como se fosse feijão (com bastante temperinhos, caldo de carne, cebola e alho). Como fiz um panelão, comeu ainda nos 2 dias seguintes como "entrada" das outras refeições.

Ponto alto do dia: mais uma tigela de açaí no fim da tarde muito bem degustada e R foi dormir sem inchaços hoje!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Susto


Ontem a noite, dia 09 por volta das 22:30 horas, R me mostrou o braço onde está instalado o picc line. Estava bem inchado e a mão estava "gorda". Não tive dúvidas e fomos à emergência, pois poderia ser uma obstrução no canal do cateter.

A noite foi longa: mais de uma hora de espera na emergência, atendimentos diversos de enfermeiros, residentes e médico. O hospital estava cheio e deram a R uma maca no corredor. Decidiram fazer um ultrassom no braço para ver como estavam as veias e artérias. O resultado veio indicando que há um coágulo no entorno do cateter e saímos de lá às 4 da manhã com uma prescrição para R injetar um anticoagulante (blood thinner) na barriga 2 vezes por dia.


Consulta com o Oncologista:

Às 10 da manhã fomos novamente para o hospital para um retorno com o oncologista. A consulta foi ótima, com muito esclarecimento sobre o caso de R. A equipe decidiu manter o cateter (mesmo com o coágulo) e manter o anticoagulante durante todo o tratamento quimioterápico. Ou seja, injeções na barriga duas vezes por dia!

Amanhã pela manhã R tem mais um ultrassom, desta vez "nas partes baixas" só para confirmar que o câncer não está lá também. Isso porque "células germinativas" são um tipo de câncer que tem relação com o de testículos. O médico falou que tem 99% de certeza que o câncer está só no mediastino mesmo, mas que não custava confirmar!

A próxima consulta com o oncologista vai ser no dia 17. Serão feitos exames de sangue para ver se R já está recuperado para encarar a segunda quimio que começa no dia 21.

C.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Voltando à lucidez

Estes últimos cinco dias foram terríveis, os três últimos internados no hospital e os dois primeiros em casa. Senti-me um vegetal com o seguinte dilema: ou tomava medicamento anti-náusea -- que me afetava a lucidez e me colocava em um estado semi-vegetativo -- ou sentia um enjoo e a sensação de que poderia vomitar a qualquer momento, ficando sem muita disposição. Nesse meio tempo, tentei me obrigar a caminhar pelo corredor do hospital, para fazer um mínimo de exercício com o corpo e fazer a medicação circular. Em momentos de melhora, jogava um xadrez com meu pai, lia ou assistia um seriado.

Um amigo do trabalho me falou algo que me ajudou muito em um período parecido: "Eu" não sou "eu com mal-estar" e essa é uma condição transitória.

Hoje acordei de madrugada e lembrei de uma escalada que C, um grande amigo e eu fizemos ao Monte Damavand, no Irã. Dos três, eu fui o que mais sofreu para chegar ao topo. Quando começamos o regresso ao abrigo, depois de chegar ao cume, eu estava morto de cansado, mas a descida estava só começando e foi ficando cada vez mais difícil.

Depois de encerrado o episódio, lembro de ter conversado com ele sobre o caso, fazendo um paralelo de como situações como aquela se repetem, e refletindo como não havia escolha a não ser seguir em frente. Não havia uma alternativa, eu não ia morrer de cansaço, mas também não ia ser fácil. Só restava seguir e passar logo aquela etapa, buscando distrair a cabeça e fazer planos de que pratos maravilhosos iria comer quando chegasse no abrigo ou de volta à Teerã. Aquele momento e a conversa posterior me marcaram muito e hoje foi muito bom relembrar isso e fazer a analogia com a quimio.

R

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Em casa após a primeira quimio!


R saiu do hospital no domingo a noite por volta das 20 horas. Recebi instruções da enfermeira em como esterilizar diariamente o picc-line e inserir o "flush" para limpar o cateter. (vídeo para os curiosos) Voltamos com um kit para casa para os primeiros dias.

A primeira noite fora do hospital foi meio agitada. Acordei com ele gritando "ajuda!", pois ao ir no banheiro teve uma crise de pressão baixa. Depois também ficou passando mal com os enjôos. Não dormimos muito no fim das contas.

Na segunda, dia 07, ele ficou muito cansado e dormiu bastante. Sua voz está meio alterada, baixa e rouca. Eu fui a farmácia pegar os remédios, lavei imediatamente toda a roupa que veio do hospital e organizei a papelada de exames que já se acumulam.

Às 18 horas voltamos ao hospital para ele tomar uma vacina (Neulasta) que estimula a produção dos glóbulos brancos pelos ossos. Efeito colateral possível é dor nos ossos nos próximos dias, mas parece que os efeitos positivos para prevenção de infecções são ótimos.

Executei também esta noite a primeira esterilização e flush no picc-line de R.

Por volta das 21 horas bateram a nossa porta com uma entrega: uma caixa enorme com remédios e ataduras para o picc-line. Não fomos informados desta entrega antes, mas o entregador nos explicou que a enfermeira que faz a troca semanal das ataduras iria usar o kit. Este processo é feito por uma empresa terceirizada...

A noite de segunda para terça já foi melhor, mas ainda com enjôos.

Hoje tivemos retorno com a médica que fez a segunda biópsia no tórax de R. Não foi uma consulta que durou muito, pois a cicatrização da cirurgia está ótima.


Stress do dia: finalmente a enfermeira apareceu de tarde para a troca da atadura do picc-line. Veio com seringas com medicamentos diferentes dos que me foram dados no hospital. Eu expliquei que a orientação era um "flush normal" por dia (0,9% sodium chloride injection). Ela explicou que tinha que usar "Heparin Flush" e "Flush normal". No entanto, questionamos por que na caixa da entrega não veio com suprimento de flush normal e também não vieram as "tampinhas" para fechar o picc-line. Ela disse que foi erro do hospital e não da empresa dela.
Ligamos para o hospital (para a área onde R foi internado) e os atendentes não sabiam informar quem tinha receitado as coisas, nem sabiam o que era para fazer. Uma confusão.
Como ficou todo mundo nervoso aqui em casa (R, eu e até a enfermeira, cada um insistindo num entendimento diferente), achei que a enfermeira terceirizada não ia ajudar muito. Nos despedimos dela sem a conclusão de qual "flush" usar, para depois decidir o que fazer com calma (eu já tinha recebido o treinamento de como fazer os flush de qualquer forma).
Liguei para a enfermeira chefe do oncologista e e ela foi verificar o que era para fazer mesmo. Me ligou com uma terceira instrução: só é para usar o "flush simples" e apenas uma vez por semana!

  • Instrução do hospital (área de internação): 1 flush normal diário.
  • Instrução da empresa terceirizada pelo hospital: 1 flush normal + 1 heparin flush por dia.
  • Instrução da enfermeira do oncologista: 1 flush normal semanalmente.

Ficamos chocados com a falta de entendimentos entre as equipes. Mas a enfermeira chefe pediu para ficarmos calmos, que de qualquer forma só esperaríamos mais 2 dias para falar com o oncologista (a próxima consulta é quinta-feira) e reconfirmar o que ela garantia. Nos disse que falou com a empresa terceirizada e explicou a eles que o picc line instalado no braço de R é mais avançado, etc. Disse também que falará com quem requisitou todo o medicamento (errado) no hospital. Vamos ver como isso se desdobra, pois inclusive pagamos quase 300 dólares (contra-partida ao seguro) por esta medicação desnecessária.


Ponto positivo do dia: R fez açaí na tigela e não enjoou!


C.



domingo, 6 de dezembro de 2015

1a Quimioterapia, Dia 5 / 6


A boa notícia de hoje é que as infusões da última noite aceleraram e é provável que R tenha alta por volta das 21 horas.

R almoçou o que pode e tomou um Ginger Ale. O hospital fornece este refrigerante de gengibre que parece fazer bem ao enjôo. Achei curioso as enfermeiras oferecerem, mas já estou providenciando um estoque para casa para quando R voltar, juntos com os gatorades que já comprei por sugestão de uma médica.

R caminhou um pouco no corredor circular da ala oncológica e assistimos um episódio de Master of None, uma série de TV (comédia). Ele estava cansado até para assistir isso, mas pelo menos as piadas deram algum alto astral no guri. No entanto, a maior parte do tempo ele dorme, exausto com as medicações.

C.

Dicas de comidas para prevenir enjôo (folder do hospital)


Dica de gargarejo para prevenir aftas causadas pela quimioterapia.

sábado, 5 de dezembro de 2015

1a Quimioterapia, Dia 4


Os primeiros fortes sinais da quimioterapia apareceram. R vomitou uma vez de sexta para sábado e outra logo depois do café da manhã. Após a visita de 2 médicos plantonistas, o mais experiente, de origem indiana, resolveu adotar um remédio mais forte para enjôo, que segundo ele, estudos recentes comprovaram na India que era mais eficaz. O efeito colateral de tantos remédios acumulados é que R hoje ficou muito sonolento e com uma expressão extremamente abatida. Quando vomitou ficou com a face branca que parecia um fantasminha e olheiras escuras. Está mais difícil tirar um sorriso do rosto dele e de incentivá-lo às piadas. No dia anterior, a visão embaçou por algumas horas e médico foi chamado. Agora, já passou.

O centro de cancer que R está em tratamento é uma grande reunião multiétnica de especialistas do mundo. O oncologista principal que assumiu o tratamento de R tem origem italiana, temos também uma conterrânea gaúcha queridíssima que vem visitar quando pode, e este de hoje: indiano. Vez por outra aparece um americano.

Hoje, sábado, ele iniciou a quarta rodada de medicamentos. O processo tem atrasado e pela previsão de como as coisas estão indo, ele só deve ir para casa na segunda feira por volta do meio dia.

Os médicos já avisaram que nos dias seguintes ele estará com a imunidade muito baixa, não poderá frequentar lugares lotados e fechados (cinema, por exemplo), terá forte cansaço e os enjôos deverão continuar por mais uns dias até a medicação sair do sangue completamente (para então começar uma nova rodada).

A quimioterapia tem fases de descanso para não matar o paciente. São dados remédios (ou veneno, como um dos médicos falou) no limite que o corpo pode suportar. E mais remédios para controlar as efeitos colaterais: enjôo, constipação, confusão mental, embolias - no caso deste último, os exercício físicos ajudam a prevenir. Na maioria dos tratamentos quimioterápicos, os pacientes ficam no hospital somente durante o dia e dormem em casa. No caso de R, o tipo de câncer requer uma carga maior de remédios contínuos, mas pelo menos não é um tratamento de longo período (3 meses de quimio é considerado curto).

Mas apesar da dureza do tratamento, vejo que o "investimento" no estilo de vida saudável, com exercício, boa alimentação e bom humor, ajudam em muito na batalha. R está sendo mais forte do que eu esperava e insiste em comer bastante (um dos desafios no câncer é não perder peso). Deve ser muito duro passar por isso tendo problema de obesidade, vícios, e histórico de sedentarismo.

C.



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

1a Quimioterapia, Dia 2 e resultado da segunda biópsia

O dia de hoje foi muito parecido com o de ontem, mas com mais enjoo, algo que vem sendo tratado com o aumento da quantidade de remédio anti-náusea.

Ontem, no fim do dia, conversei com uma médica conterrânea e muito simpática. Depois da conversa, parei de checar se o cabelo caía, já que ela esclareceu que isso só deve acontecer na próxima semana. Com o passar do tempo os efeitos da quimio devem se agravar e eu perderei todos os pelos do corpo, sobrancelhas e possivelmente os cílios (que demoram para crescer depois, mas dizem que um dia voltam!). :-)

Ela comentou que alguns pacientes ficarem traumatizados com a quimio. Principalmente homens jovens acabam inventando desculpas para a família, dizendo por exemplo que já estão curados, para tentarem não fazer os últimos ciclos. Minha esposa comentou que no filme "Dying Young" (Tudo por Amor), é exatamente isso que acontece: o paciente inventa para a namorada que o tratamento acabou e foge com ela para longe da família que o levaria ao hospital.

Ainda neste contexto, minha cunhada comentou que Lance Armstrong, ao iniciar sua quimio para o câncer, teria sugerido para aumentarem a dose logo nos primeiros dias, já que se sentia muito bem e acreditava que como atleta daria conta do recado. Depois, quando os efeitos começaram a piorar, ele agradeceu não terem feito o que ele pediu. :-D

Ainda sinto-me bem hoje, mas ciente de que com o tempo deverá ficar menos "agradável" essa tentativa de matar o tumor sem me matar :-D

Hoje, no fim do dia (19h00), meu oncologista passou por aqui e discutimos o resultado da segunda biópsia. Foi confirmado o diagnóstico de tumor germinativo, mas no lugar de misto (seminoma e não-seminoma), aponta tumor de seminoma. Isso não quer dizer nada para mim! Ele explicou que é algo bom, pois tumores seminoma respondem bem à quimioterapia, ao contrário de não-seminomas. Por outro lado, os marcadores de tumores, mesmo em valores baixos, indicam que deve haver um componente de tumor não-seminoma, pois o tumor seminoma não apresentaria marcadores.

Com esta explicação que não deu para entender muita coisa, na prática o que muda é o que deve acontecer depois dos 4 ciclos de quimio: ao invés de uma cirurgia torácica delicada, pode ser que terei que passar "apenas" por 5 semanas de radioterapia - "só 1 minutinho de radiação por dia" - disse o médico.

Resumo: nova biópsia apresentou melhor prognóstico.

Hoje fiz mais bicicleta ergométrica e passei o dia jogando xadrez, lendo meu livro e vendo séries. Apesar de todos os problemas, posso dizer que esse câncer está me aproximando da família, dos amigos e, de modo mais radical, está sendo uma oportunidade de reavaliar a vida até esse ponto. É como seu eu tivesse sido transportado para o fim da minha vida, e olhasse para trás, forçado a avaliar como vivi até agora e pensar, bem, se eu fosse viver de novo, o que eu mudaria?

R


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

1a Quimioterapia, Dia 1

Bom, o primeiro dia da quimioterapia ainda não acabou, isso deve acontecer às 3h00 a.m. de quarta.

Quimioterapia é um eufemismo para "tomar veneno que você torce para acabar com o câncer antes de acabar com você", hehehe :-D

O resumo cronológico de ontem foi algo assim:

Segunda-feira
18h00 - 21h00: instalaram meu "amiguinho inseparável" com uma relação muito próxima ao coração, via cateter...

Meu amiguinho e as drogas penduradas.
Depois me colocaram em um soro fisiológico por duas horas, seguidos de três remédios para náusea.

21h00 - 3h00: Finalmente, a primeira droga da quimio: Cisplatina, por uma hora. Seguida de mais duas horas de soro fisiológico com eletrólitos para garantir hidratação suficiente. Depois a segunda droga da quimio: Etoposide, por uma hora. Em seguida, Mesna, uma droga para prevenir os efeitos colaterais da terceira droga da quimio (Ifosfamide), por mais uma hora. O curioso é que a Mesna também vem com efeitos colaterais, :-D ou seja, um "looping"... Esse troço é mesmo uma Mesna!

Terça-feira
3h00 - 7h30: depois de colocar Ifosfamida e mais Mesna na veia, finalmente consegui ir dormir, pois agora essa combinação vai seguir pingando continuamente na veia por 24h. Detalhe que descobri hoje, o Ifosfamida é um derivado do "gás mostarda".
Nesse contexto, tinha esquecido de comentar, mas minutos antes de começar a segunda biópsia me deram um derivado de cocaína para adormecer e dilatar as vias respiratórias. Primeiro te dão cocaína na biópsia, mas depois vem o gás mostarda... "there is no free lunch" :-D

Durante a noite, acordei de tempo em tempo para ver se o cabelo tinha começado a cair... mas ainda não...
Tomei café e me senti com um princípio de enjoo. A recomendação dos médicos foi já entrar com mais medicação anti-náusea antes de piorar (segundo os médicos fica mais difícil de controlar em estado avançado de enjôo).

7h30 - 15h00: Depois fiz meia horinha de bicicleta ergométrica (que tem a disposição para os pacientes oncológicos), bem leve, para dar uma movimentada no corpo, pelo menos enquanto estou disposto. Os médicos recomendam movimentar-se para a droga circular e sair do corpo mais rapidamente. O resto da manhã foi jogar xadrez com meu pai (ele ganhou mais uma, mas agora eu posso usar a quimio como desculpa!), assistir um pouco de TV e ler mais um pouco.

Acho que amanhã será possível ter mais claro uma noção dos efeitos colaterais. Por enquanto, ainda nem completei um ciclo completo, sem contar o fato de que os efeitos são cumulativos.

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