quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Voltando à lucidez

Estes últimos cinco dias foram terríveis, os três últimos internados no hospital e os dois primeiros em casa. Senti-me um vegetal com o seguinte dilema: ou tomava medicamento anti-náusea -- que me afetava a lucidez e me colocava em um estado semi-vegetativo -- ou sentia um enjoo e a sensação de que poderia vomitar a qualquer momento, ficando sem muita disposição. Nesse meio tempo, tentei me obrigar a caminhar pelo corredor do hospital, para fazer um mínimo de exercício com o corpo e fazer a medicação circular. Em momentos de melhora, jogava um xadrez com meu pai, lia ou assistia um seriado.

Um amigo do trabalho me falou algo que me ajudou muito em um período parecido: "Eu" não sou "eu com mal-estar" e essa é uma condição transitória.

Hoje acordei de madrugada e lembrei de uma escalada que C, um grande amigo e eu fizemos ao Monte Damavand, no Irã. Dos três, eu fui o que mais sofreu para chegar ao topo. Quando começamos o regresso ao abrigo, depois de chegar ao cume, eu estava morto de cansado, mas a descida estava só começando e foi ficando cada vez mais difícil.

Depois de encerrado o episódio, lembro de ter conversado com ele sobre o caso, fazendo um paralelo de como situações como aquela se repetem, e refletindo como não havia escolha a não ser seguir em frente. Não havia uma alternativa, eu não ia morrer de cansaço, mas também não ia ser fácil. Só restava seguir e passar logo aquela etapa, buscando distrair a cabeça e fazer planos de que pratos maravilhosos iria comer quando chegasse no abrigo ou de volta à Teerã. Aquele momento e a conversa posterior me marcaram muito e hoje foi muito bom relembrar isso e fazer a analogia com a quimio.

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